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[REVIEW] O Nintendo Switch 2 é um monstro contido em uma jaula de velhas ideias

  • Matheus Santos
  • 10 de jun.
  • 6 min de leitura

O novo console da Nintendo chega com a força de um titã, mas ainda carrega as correntes de uma filosofia que para no tempo. O poder impressiona, as decisões questionáveis frustram, e nós detalhamos cada centímetro dessa nova era.

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O ano é 2025. O cenário gamer é um campo de batalha radicalmente diferente daquele que viu o nascimento do primeiro Nintendo Switch. Se em 2017 a ideia de um híbrido parecia uma aposta ousada, hoje ela é a norma. PCs disfarçados de portáteis, como o Steam Deck e o ROG Ally, provaram que é possível ter poder de desktop na palma da mão. É neste mundo, mais competitivo e exigente do que nunca, que a Nintendo ousa dar seu próximo passo. A pergunta que pairava no ar era ensurdecedora: a Big N ainda conseguiria capturar a imaginação do mundo?


Após uma semana imersiva com o Nintendo Switch 2, a equipe do GamerFront pode afirmar com segurança: a magia está lá, mais potente e vibrante do que nunca. Contudo, ela vem acompanhada de uma teimosia quase anacrônica. O Switch 2 é uma máquina de poder surpreendente, uma evolução palpável em quase todos os sentidos. Ao mesmo tempo, é um console teimosamente "Nintendo", uma cápsula do tempo de design que se recusa a aceitar algumas convenções modernas.


Vamos desempacotar essa complexa e fascinante dualidade, ponto por ponto.


Design e Hardware: Um salto quântico que se sente no toque


A primeira impressão ao segurar o Switch 2 é de um adeus definitivo à era do "brinquedo". O acabamento fosco, em um tom de cinza sóbrio e elegante, não só confere um visual premium, como também é incrivelmente resistente a marcas de dedo e gordura, um alívio para os jogadores mais assíduos. A estrutura é mais densa, mais rígida. O suporte de mesa, antes uma piada frágil, agora é uma placa metálica larga e firme, permitindo múltiplos ângulos com total confiança.


Os Joy-Cons 2 são a personificação dessa evolução. O encaixe no corpo do console agora é magnético, um sistema satisfatório e à prova de erros que substitui os antigos trilhos. Os analógicos estão maiores e com uma textura mais aderente, e os botões de face possuem um clique mais tátil e menos "mole". No entanto, a ergonomia continua sendo um ponto de debate. Por manterem o formato reto para o uso desacoplado, ainda não são os controles mais confortáveis para longas sessões. Além disso, a ausência de gatilhos analógicos e de analógicos com tecnologia Hall Effect (que previne o drift) são omissões difíceis de justificar em um hardware de 2025. O "modo mouse", que permite usar os Joy-Cons em uma superfície para mirar, é uma inovação curiosa. Em teoria, oferece uma vantagem competitiva. Na prática, a pegada estreita torna a experiência desajeitada e cansativa. É uma daquelas ideias "Nintendo": diferente, funcional até certo ponto, mas que provavelmente será esquecida pela maioria.


Por outro lado, o Pro Controller 2 é a perfeição refinada. Mais ergonômico e com uma bateria que parece infinita, ele se consagra como um dos melhores controles do mercado, sem ressalvas. Já o dock, mais curvilíneo e com uma ventoinha interna para auxiliar na refrigeração, cumpre seu papel discretamente, mas gostaríamos de ver mais portas USB-C para um futuro com mais acessórios.


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A Tela: Brilho e velocidade ofuscados por uma grande ausência


A tela é o palco principal da experiência portátil, e aqui o Switch 2 oferece um espetáculo de luz e sombra. Com 7,9 polegadas, taxa de atualização de 120Hz, suporte a VRR e HDR, as especificações no papel são um salto imenso. E, de fato, a imagem é nítida, o brilho é forte o suficiente para ambientes claros e o VRR (Taxa de Atualização Variável) faz um trabalho notável em suavizar pequenas quedas de performance nos jogos, tornando a jogabilidade mais fluida. O "mas" aqui é doloroso: é uma tela LCD. Após a Nintendo nos apresentar o sublime painel OLED no modelo anterior, voltar para o LCD parece um retrocesso incompreensível. A diferença é notável. Onde o OLED entrega pretos perfeitos e um contraste infinito que faz as cores saltarem, o LCD apresenta tons de cinza escuro e um "brilho" geral que lava a profundidade da imagem. O HDR tenta compensar, mas não faz milagres. É como assistir a um filme em uma ótima TV 4K, sabendo que na sala ao lado há uma OLED exibindo a mesma cena com uma qualidade visual muito superior.


Para agravar a situação, a implementação dessas tecnologias é frustrante. O VRR, essa maravilha moderna, funciona apenas no modo portátil. Ao colocar o console no dock, a função é desativada. Isso significa que, em sua TV de última geração, você não terá a suavização de imagem que o próprio portátil oferece. É uma limitação via software que desafia a lógica, especialmente quando o cabo e a porta HDMI 2.1 são plenamente capazes.

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Software e Sistema: Preso em 2017


Se o hardware deu um salto para o futuro, o software parece ter ficado para trás. A interface do Switch 2 é quase idêntica à de seu predecessor. Sim, é limpa, incrivelmente rápida e acompanhada por efeitos sonoros charmosos e satisfatórios. Mas sua simplicidade beira o simplório. Em uma era de dashboards personalizáveis, conquistas, e integração social profunda, o sistema da Nintendo continua sem temas, sem pastas para organizar jogos e, no lançamento, sem aplicativos essenciais como YouTube, Netflix ou Crunchyroll.


A chegada do Game Chat por voz nativo foi comemorada, eliminando a necessidade do bizarro app de celular. A qualidade é boa e a integração, direta. A polêmica? Após um período de gratuidade que vai até março de 2026, o serviço será pago, parte do pacote Nintendo Switch Online. Cobrar por uma função que é padrão e gratuita em todas as outras plataformas (PC, PlayStation, Xbox) é uma decisão que soa surda aos ouvidos da comunidade global. Outras áreas também mostram essa falta de avanço. A captura de vídeos ainda está limitada a 30 segundos e o processo para transferir mídias para o PC ou celular continua desnecessariamente complicado. O novo sistema de compartilhamento de jogos digitais, que exige validação por proximidade, efetivamente acaba com a prática de dividir contas com amigos ou familiares que moram longe, algo que a própria Nintendo antes permitia. É um sistema restritivo que parece ir na contramão das tendências de mercado.

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Performance: Onde a magia realmente acontece


É aqui que o Switch 2 cala os céticos. Graças ao seu chip Nvidia customizado, baseado na arquitetura Ampere, e ao uso magistral da tecnologia DLSS (Deep Learning Super Sampling), o console entrega uma performance que parecia impossível para seu tamanho e consumo de energia. O DLSS é o molho secreto: ele usa IA para reconstruir uma imagem em alta resolução a partir de uma base menor, resultando em gráficos nítidos com um impacto mínimo no desempenho.


O resultado é transformador. Jogar Cyberpunk 2077 pelas ruas de Night City ou um hipotético Zelda: Tears of the Kingdom otimizado para o novo hardware, com texturas aprimoradas e em 1080p cravados a 30fps (ou mais) na tela do portátil, é uma experiência genuinamente "nova geração". A qualidade de imagem em muitos títulos third-party supera o que vemos no Xbox Series S, um console de mesa. Para um aparelho que consome apenas 15-16W, é um feito de otimização impressionante. Contudo, a escolha pela arquitetura Ampere, já com 5 anos de idade em 2025, levanta questões sobre a longevidade do console. Tecnologias mais recentes, como a geração de quadros do DLSS 3, não estão presentes, o que pode limitar seu desempenho em futuros jogos mais exigentes, especialmente quando a próxima geração da Sony e Microsoft chegar.

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Bateria e Recarga: O padrão da indústria com um calcanhar de Aquiles


Em nossos testes, a bateria se comportou dentro do esperado para um portátil moderno. Em jogos AAA pesados, com brilho no máximo, conseguimos entre 2h10 e 2h30 de jogatina. Em títulos mais leves ou jogos do Switch Online, essa autonomia pode passar de 5 horas. São números decentes e alinhados com os concorrentes.


O grande vilão, no entanto, é o tempo de recarga. Ele é lento. Dolorosamente lento, principalmente se você estiver jogando enquanto carrega. Leva cerca de 3 horas para uma carga completa de 0 a 100% com o console em modo de repouso. Isso significa que sessões de jogo mais longas inevitavelmente o deixarão preso a uma tomada, o que fere um pouco o propósito da portabilidade.

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Veredito Final do GamerFront


O Nintendo Switch 2 é a mais pura tradução da Nintendo em forma de hardware. É um produto de dualidades extremas: um feito de engenharia capaz de entregar uma performance de ponta em um formato compacto, ao mesmo tempo em que é acorrentado por decisões de software e de design que parecem ignorar a última década de evolução da indústria. A experiência central, que é jogar, é absolutamente fantástica. A combinação do hardware premium, do poder de fogo surpreendente e da biblioteca de jogos exclusivos que certamente virá, torna o console um objeto de desejo instantâneo.

Então, vale a pena? Sim, sem dúvida. O Switch 2 é uma compra recomendada para qualquer fã da Nintendo e para aqueles que valorizam a versatilidade de um portátil poderoso. Ele entrega uma experiência de jogo de alta qualidade que justifica o investimento.


Mas vá de olhos abertos. Esteja ciente de que você está comprando não apenas a máquina, mas também a filosofia intransigente da Nintendo. A falta de uma tela OLED, as limitações do sistema e as políticas online questionáveis são o preço a se pagar. O Switch 2 é um gigante poderoso, um monstro de performance esperando que sua própria criadora o liberte completamente de sua jaula de velhas ideias. E nós, do GamerFront, estaremos aqui para ver se isso acontece.

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